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Estimado Leitor
Cremos dever-vos uma palavra.
Não será talvez aquela que agrade a todos, pois cada um de vós terá a sua verdade. E
é precisamente por cada homem pensar que a sua verdade é melhor que a dos outros, que se
geram guerras - que se matam friamente, com raivas, homens, mulheres e crianças.
Mas há uma verdade que não é individual; um conceito colectivo do que está ou não
certo.
Os trabalhadores da "República" - cada um sem dúvida, com as suas formações
ideológicas - querem e assim decidiram estar acima de lutas partidárias, servindo
respeitosamente a Informação. A Informação isenta, sem a sofisma das meias-verdades,
as quais, não benefeciando o País, nada dará à Revolução; pelo contrário.
Não se torna necessário alongar, promenorizando, a história deste jornal. Foi ao longo
dos seus 62 anos uma modesta "folha " feita por homens verticais, com muitos
defeitos é evidente, mas com o gozo-força da coerênciae sem olhar vesgo do servilismo
pactuante. Foi assim a sua vida, numa estrada cheia de pedras e com as botas cambadas.
Lutou frontalmente contra o fascismo. Deu palavras, deu estímulo, deu dinheiro, deu
críticas saudáveis e deu-nos a alegria de poder continuar. Cada parafuso da nossa
rotativa é uma afirmação popular, quantas vezes anónima, de uma permanente luta
antifascista.
Foi com lágrimas de felicidade que, em 25 de Abril de 1974, vimos surgir a madrugada
libertadora. E fizemos um belo jornal - não porque estivesse bem feito, mas sim porque
todos, nesta casa, o fizemos.
O povo fardado deu-nos uma prenda linda, ambicionada, quantas vezes sonhada em noites de
amargura. Um ano volvido, ficámos - os trabalhadores deste jornal - com a sensação que
se estava a estragar a prenda.
E recusamos
Recusamos desvios partidários
Recusamos dizer meias-verdades
Recusamos ignorar a luta dos trabalhadores
Recusamos ignorar as ideologias, quaisquer que sejam, desde que tragam consigo o nosso
permanente lema antifascista.
Cremos dever-vos ainda mais uma palavra : o que já fizemos e o que vamos fazer. E tal
cremos porque desejamos, repetindo a frase, que cada parafuso da nossa rotativa, seja
pertença de quem a ofereceu.
Devemos isso.
Elegemos uma Comissão de Trabalhadores e essa comissão afirmou, no dia 5 de Maio, que a
totalidade dos seus redactores deveria colocar acima de todos os interesses a
Informação, em benefício dos leitores da "República".
A comissão diz hoje não à direcção literária do jornal - são elementos marcadamente
antifascistas mas também marcadamente partidários. Devemos-lhes uma palavra de respeito,
mas propomos que se retirem, para continuarem a merecer essa palavra.
Os trabalhadores da "República", representados pela sua comissão, não desejam
que a administração pare a sua actividade; não desejam a autogestão; não desejam a
cogestão. Não têm sequer críticas a efectivaráquela administração.
Os trabalhadores da "República", representados pela sua comissão, desejam
muito mais que "sanear": desejam continuar a receber o salário que lhes é pago
pelos seus leitores e anunciantes. Mas a recebê-lo com mérito, honestidade, ao serviço
dos outros trabalhadores que, como eles, amam e defendem a Revolução.
É possível que voltemos à estrada cheia de pedras e que fiquemos novamente com as botas
cambadas. É possível. Mas o único jornal antifascista durante 62 anos, deve continuar a
sua caminhada isenta, independente, séria, após uma Revolução socialista.
Devemos ao leitor da "República", esta palavra.
O leitor que nos retire ou que nos dê a sua confiança, mas será para si, seja qual for
a sua filiação partidária, que trabalharemos agora.
Todos.
Artigo retirado na íntegra do jornal "República" no dia 19 de Março de 1975
O Caso República
1997 - Lisboa, Portugal
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Trabalho realizado por:
Pedro Miguel Guinote
Rui Miguel Faias
Mário Rui Nicolau
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