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Manifesto dos trabalhadores da
"República" a todos os trabalhadores pobres e explorados
11 de Junho de 1975
Os trabalhadores da
"República" são um grupo de trabalhadores obscuros entre todos os
trabalhadores portugueses e que na actual crise de Informação em Portugal, reagem às
correntes do oportunismo geral: não obedecem a nenhuma seita, não estão submetidos a
nenhum partido, não são de nenhuma irmandade.
Assumiram uma responsabilidade solidária com todos os explorados de
Portugal e lutam para que a Informação seja uma acção colectiva.
Temos a felicidade de pertencer unicamente à nossa própria razão e ao nosso próprio
trabalho e lutamos contra a engrenagem que visa dividir os trabalhadores explorados de
Portugal em vários partidos, em várias políticas, em vários poleiros, em vários
comedouros.
É desta crise geral que precedem alguns partidos que temos: de conciliações que atingem
a imoralidade e de tolerâncias que roçam a corrupção. Uma Informação prostituída ao
serviço de partidos destes sob a alegação de pluralismo, só pode contribuir para a
dissolução da sociedade, arrastando-a para a indiferença e para a relaxação.
A "República" caíra nas
mãos de uma cúpula de falsa grandeza
Os trabalhadores da
"República" não querem permitir que o País continue a manter-se unicamente
pelos suprimentos provenientes de explorações sucessivas. Como trabalhadores de
Informação queremos um jornal que ajude os portugueses a lutar, cientes dos seus
direitos e da sua dignidade, contrariamente aos demagogos e oportunistas que arregimentam
os que se batem pela liberdade que não sabem amar e por um programa socialista que não
sabem ler.
O jornal "República" caíra nas mãos de uma cúpula de falsa grandeza, de
falso talento, com uma arrogância burguesa. Caíra no reinado da usura, da ruína do
trabalho e da sofismação dos princípios do socialismo. Essa cúpula provaria
sobejamente entre nós e no concerto de uma minoria de nações capitalistas e
barulhentas, a sua queda para o chinfrim, para o ordinário e para o reles.
Os nossos adversários provaram que têm nas suas mãos unicamente o "poder da
intriga" e com este poder mostraram-se vaidosos, pusilânimes e fanáticos.
Poder da inteligência e da economia
nas mãos dos trabalhadores
Nós trabalhadores da
"República", somos conscientes de que estamos numa sociedade a que falta a
ciência e educação, a que falta portanto, uma política de Informação que em vez de
mutilar as classes trabalhadoras exploradas e pobres, lhes dê o poder da inteligência e
da economia.
Nós não queremos uma Informação ao serviço dos demagogos entretidos violentamente em
contar o número possível das liberdades. Sabemos que é das profundidades demagógicas
que saem sempre à periferia social os tiranos. É esta a ocasião propícia de proceder
de proceder a uma remodelação completa da nossa política de informação, criando uma
informação nas mãos das classes trabalhadoras, independente de todos os compromissos e
de todas as solidariedades partidárias, inaugurando uma informação de desforra e de
reabilitação, nas mãos dos explorados e dos pobres.
Como seria inevitável, alguma burguesia portuguesa, que antes do 25 de Abril estava em
parte a favor dos explorados e dos pobres, quanto mais não fosse por sentimento poético,
no canto e nas armas, ou para a consolidação de futuras clientelas, essa burguesia
abandonou pouco a pouco a sua atitude, para hoje, após os revezes do 28 de Setembro e do
11 de Março, acolher formas doutrinais dirigistas, proteccionistas e autoritárias.
Antifascistas de antes de 25 de Abril, transformaram-se em autoritaristas após o 11 de
Março, pretendendo a usurpar a informação para melhor injectarem nas classes exploradas
a sua ideologia de classe dominante. Os spinolistas do 11 de Março sabiam perfeitamente o
valor político do cabeçalho República para terem planeado a sua ocupação
declaradamente contra os princípios que nós trabalhadores hoje defendemos contra a
cúpula barulhenta do jornal.
Nós defendemos que a emancipação dos trabalhadores portugueses Terá de ser obra dos
próprios trabalhadores. Por isso, os trabalhadores deverão deter a informação de
cobertura nacional, para não serem em caso algum, manipulados por cúpulas dirigistas
para o exercício do poder da informação.
Liberdade a partir da base
Defendemos, perante todos os
trabalhadores portugueses que para a construção de uma verdadeira sociedade socialista,
a informação deve visar a transformação da classe trabalhadora, de uma classe
explorada e dirigida, para se tornar numa classe dirigente, através dos seus organismos
base, cada vez mais consciente, mais responsável e mais livre.
O jornal "República", deve ser um destes organismos no
contexto geral da informação
É neste sentido que lutamos contra qualquer ingerência partidária, contra a ingerência
da ditadura de compadres que o PS pretende instalar. Defendemos que a ascensão definitiva
das classes trabalhadoras ao poder político da informação, não surge por decreto, nem
por decisão de nenhuma "comissão central": surge pela precipitação das
contradições sociais e económicas.
Neste sentido não aceitamos produzir uma informação condicionada às tácticas
premeditadas dos que não querem acompanhar a revolução em marcha. A informação da
classe trabalhadora não precisa que informem em seu nome, tem ela própria que informar.
Nenhum partido se pode sobrepor aos interesses dos trabalhadores pobres e explorados e é
autêntico crime contra a revolução, manipular os pobres e os explorados com uma
informação ainda não restituída às classes trabalhadoras.
Contra o espontaneísmo da
revolução
Defendemos que a informação não
pode cair numa concepção espontaneísta da revolução.
Não basta que perante situações concretas de luta - caso actual da
"República" - surjam comissões de trabalhadores que após o desaparecimento
dessa situação de luta, desaparecem também. As comissões de trabalhadores têm de se
tornar organismos estáveis, unitários e de base, enquadrados pela vanguarda proletária
surgida da luta, que determinem a acção dos sindicatos e condicionem a acção de
organizações e de e partidos sobre a informação.
A comissão de trabalhadores da "República" é neste sentido formada por
militantes operários de várias organizações e partidos (incluindo o próprio PS).
Desta comissão - a luta a isso os conduziu - terão de dialecticamente saber acompanhar o
desenrolar do processo de informação, como catalisadores e detonadores, ou terão de ser
ultrapassados se actuarem como travões e reformistas e contra-revolucionários.
O poder da informação aos
trabalhadores
Declaramos a todos os trabalhadores
portugueses, que lutamos para que a classe trabalhadora possa controlar o poder da
informação.
Declaramos que a classe trabalhadora tem que interferir nas decisões que
dizem respeito à produção da comunicação social e da sua distribuição.
Declaramos que o socialismo não se fez para que se atinjam tiragens
"records" do jornal, sem que se transformem o trabalho e as condições em que o
mesmo é efectuado.
Declaramos que na informação são os trabalhadores que têm de poder
determinar que o fruto do seu trabalho - o jornal - seja aplicado em realizações que
dizem respeito à transformação do homem e da vida e não em objectivos belicistas dos
políticos, em privilégio de minorias corruptas ou em exibicionismos partidários.
Declaramos finalmente que a decisão da nossa luta partiu do nosso local
de trabalho e subiu gradualmente até à centralização necessária na comissão
coordenadora (e não controladora) de trabalhadores.
Estamos solidários com todos os trabalhadores explorados e pobres de
Portugal, que nas fábricas, nos campos, nos portos de pesca, nos serviços e nos
transportes, lutam por uma revolução ao serviço dos trabalhadores e não ao serviço de
meia dúzia de ambições de poder e de outras tantas traições aos soldados
verdadeiramente revolucionários.
Lisboa, 11 de Junho de 1975
O Caso República
1997 - Lisboa, Portugal
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Trabalho realizado por:
Pedro Miguel Guinote
Rui Miguel Faias
Mário Rui Nicolau
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