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Caso República
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11.40 - É entregue na redacção um comunicado dos emitido
pela CCT dizendo que "A Comissão Coordenadora dos Trabalhadores do jornal
"República" comunica que de acordo com o estabelecido na Reunião geral dos
Trabalhadores (RGT) de 2 de Maio...suspende do exercíco das suas funções a Direcção e
Chefia de Redacção do mesmo jornal, elegendo como Director Interino o camarada Alvaro
Belo Marques"
15.00 - a tiragem do jornal sai a hora
normal e não muito diferente das outras edições. Na primeira página vem um editorial de "Estimado Leitor"
18.00 - inicio da concentração em frente ás instalações
do jornal organizada por uma "Comissão de Leitores da República", Mario Soares
e Salgado Zenha organizam a manifestação.
19.30 - oficiais do COPCON e da PM entram nas instalações da
"República". Seguem-se forças destas unidades, que vão manter a segurança
interna do edifício, que, entretanto se encontra guardado no exterior por enorme aparato
militar e policial.
20.00 - João Gomes assoma à janela do Gabinete da direcção
e fala à multidão que se acotovela na Rua da Misericórdia: "Nós garantimo-vos
que não sairemos daqui. A luta continuará até à nossa vitória. Os leitores da
"República" terão o seu jornal autêntico". (Aplausos e palavra de
ordem partem da rua: "Rego amigo, o povo está contigo").
20.15 - é Alvaro Guerra quem vai à mesma janela dar
explicações à multidão impaciente. Diz: "Qualquer que seja a solução que
este caso tiver ela terá de ser aprovada e apoiada por vocês todos que são verdadeiros
leitores da "República" (Aplausos).
20.25 - João Gomes relata a um graduado do COPCON a sua
versão dos acontecimentos da manhã em que causa a CCT da haver posto a direcção do
jornal perante uma situação de "facto político".
20.30 - a agitação da multidão recrudesce. É Mário Soares
que chega à "República" acompanhado de Sottomayor Cardia, Manuel Alegre e
outros elementos da cúpula do PS. A multidão rompe em largos aplausos e pede para abrir
alas. O secretário geral do PS atinge a entrada principal da "República" e
grita-se para cima que "abram a porta" (não abrem)
20.35 - na sala de redacção as pessoas agitam-se quando se
apercebem da presença de Mário Soares lá em baixo. Uma empregada da administração
conta a um sargento dos "Comandos" que mário Soares estava a tentar penetrar
nas instalações e que os trabalhadores não admitiram tal. Comentário do sargento:
"Fique descansada que aqui não entra". Alberto Arons de Carvalho, ao
lado, retorquiu: "Olhe que tem acções cá na casa". O sargento outra
vez: "E mesmo que tenha..."
20.40 - na redacção, um tipógrafo comenta jocosamente:
"Não me digam que lá fora está o povo. Quem ali está é o PS e os seus
interesses neste jornal".
20.45 - uma pedra estilhaça uma das vidraças da janela da
publicidade (enquanto a multidão entoa: "Morte à CIA e ao KGB" -
apropriação da palavra de ordem do MRPP)
20.50 - na rua canta-se o Hino Nacional. Vítor Direito, à
janela, acompanha.
21.00 - cinco "Chaimites" vêm reforçar as forças
que guardam o edifício. Os manifestantes reagem: "MFA de que lado estás?"
21.05 - novo projéctil parte o vidro. Desta feita era uma
lanterna portátil...
21.10 - na presença de Mário Soares ecoam diversas palavras
de ordem. Registei algumas que me chegam com mais clareza: "Os soldados são
filhos do povo", "Nem Carlucci, nem Cunhal, independência nacional",
"Ninguém arreda pé", "Fora da "República" os
sociais-fascistas". (Algumas destas palavras de ordem são habituais do MRPP)
21.30 - Mário Soares realiza um comício. Munido de megafone
o secretário-geral do PS, que haviam incitado antes a "Socialismo, sim! Ditadura,
não!" afirma que a "Republica" "é uma voz independente que
terá de continuar como sempre foi". Adiantaria também que "estamos aqui
como patriotas a defender a liberdade de expressão pois não toleramos que uma escassa
minoria de pessoas calem aquela que é porventura das poucas vozes livres que ainda
existem neste país". (A multidão aplaude e canta de novo "A
Portuguesa").
22.00 - Mário Soares, precedido do major Lobato Faria, dos
"Comandos", tenta entrar nas dependências do jornal através da porta das
oficinas. Os trabalhadores não consentem. Gera-se conflito entre as duas partes. Da
porta, Mário Soares pronuncia: "Vocês estão a fazer objectivamente o jogo da
reacção". Referia-se aos trabalhadores dirigidos pela CCT. Retorquiram alguns
elementos: "Isto aqui não é a sede do PS. Tu e o teu colega Cunhal devem pôr os
olhos na força dos trabalhadores. Não hão de continuar a brincar com o Povo. Vão os
dois para onde estavam". (Palmas - enquanto o secretário geral do PS se
retirava)
22.20 - a TV, que tinha conseguido "meter" uma
equipa de reportagem dentro das instalações, já havia conseguido enviar para os
estúdios um filme. A esta hora queria regressar à base. Todavia a multidão, cá fora,
não lhe consente.
22.45 - o Telejornal é aguardado com ansiedade numa das salas
do jornal. Quando vai para o ar detecta-se a imagem de um trabalhador (Vladimiro) a
historiar a luta que haviam desencadeado. Segue-se Raul Rego a narrar promenores que
redundavam na saída da "República", nessa tarde, que ficou conhecida como a
edição "Belo Marques".
23.00 - na via pública a manifestação "aquece"
enquanto a chuva continua a cair. Uma rajada de "G-3" alarma o cento e tal de
pessoas que se encontram fechadas nas instalações do jornal. Alguns dos manifestantes
correm desenfreadamente. Há quem se estatele. E que fique "atropelado" na
confusão que se gera. Os dois tiros foram para o ar...
23.15 - voltam as palavras de ordem. Registo: "Quer
roubar mais um jornal o partido do Cunhal", "Não deixaremos que o Cunhal
assassine o jornal", etc.
23.30 - o major Lobato Faria dirige-se a uma das janelas de
sacada. Não tem oportunidade de abrir a boca. Ouve: "De que lado está o MFA?"
(retira-se sobre as vaias da multidão).
23.35 - o mesmo oficial do regimento de "Comandos"
unidade afecta ao COPCON, entra no gabinete de Raul Rêgo, demora-se alguns minutos em
conferência com elementos da cúpula do vespertino e quando sai traz na mão direita uma
folha de papel que se sabe de seguida ser o pedido expresso da Administração para selar
as portas do edificio se o litígio não se solucionar. Considerava-se que o jornal havia
saido nesse dia ilegalmente.
23.40 - o espectro do selo causa apreensão em vários
trabalhadores a quem oiço pela primeira vez que seria aconselhável voltar ás
negociações.
23.45 - um telegrama é lido através do megafone por um dos
manifestantes. Dizia: "Leitores da "República" protestam indignados
face à escalada desavergonhada que visa silenciar a voz independente da Imprensa
portuguesa".
23.50 - grita-se na rua contra os militares: "Assassinos,
assassinos".
O Caso República
1997 - Lisboa, Portugal
Comentários para o webmaster
Trabalho realizado por:
Pedro Miguel Guinote
Rui Miguel Faias
Mário Rui Nicolau
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